“Não gosto mais de ti. Acabou tudo”, levanto-me bruscamente com o movimento inesperado do braço dele que se solta da minha cabeça que se apoiava nele até há instantes atrás.
“Ahn” limito-me a pronunciar, como se tivesse acabado de ser depositado um peso sobre um dos lados e agora a minha vida fosse tal qual um plano inclinado. Um em que luto por manter o equilíbrio.
“Preciso de me despachar”, fico atordoada com esta mudança súbita de planos, mas esforço-me por acompanhar quando decido que o acompanharei até, pelo menos metade da viagem. É isso mesmo, está tudo bem. Teremos pelo menos mais vinte minutos e assim a dor que se impõe será doseada até ao momento chave.
Corro para agarrar nas minhas coisas, coloco o vestido de ontem sobre o corpo e pego em tudo aquilo de que posso precisar de forma a não deixar passar que esta viagem não estava nos meus planos até há meros minutos.
“Anda, tenho mesmo que sair neste segundo”. “Sim, sim” penso para mim “computador, telemóvel, chaves…” vou desgovernada em direção à porta de saída (mais do que de entrada?) e quase que chocamos de frente.
Não senti a porta bater, o espanto em o ver aqui não devia ser menor que a presença dele.
Não ia ele embora?
Mas ele ainda está aqui.
Estou perdida nos meus pensamentos quando me ocorre que poderei ter ouvido mal desde o início.
Sinto de novo as ondas a bater contra as rochas do rio Tejo, levanto a cabeça do computador e apercebo-me de que isto é só um rascunho, de que isto aconteceu dentro da minha mente e que nada disto é real.
não sei quando te verei a seguir mas já fiz a minha paz com isso. só gostava que viver não se assemelhasse tanto a caminhar por um campo minado, que estar apaixonada não fosse como carregar uma faca de novilho sempre molhada e nada com que me seque ou estanque o líquido que do meu peito escorre.
já reparaste que eu não te posso amar se estiveres sempre à defesa? gostas de mim, mas esperas sempre que a minha próxima palavra para ti seja em deferimento e eu não sei continuar a viver assim…